Música

É preciso dar um jeito, meu amigo: sobre a canção de Ainda Estou Aqui

Além do Globo de Ouro (e quiçá do Oscar) para Fernanda Torres, o filme Ainda Estou Aqui ajudou o público a (re)descobrir É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo, a canção de Roberto Carlos e Erasmo Carlos que sobe junto com os créditos do filme.

Aliás, a trilha de Ainda Estou Aqui é um espetáculo à parte. Mas vou me concentrar na canção que saiu no clássico disco Carlos, Erasmo, de 1971. Até porque ouvi por aí reclamações sobre o fato de Walter Salles destacar uma música de um artista menos “político”.

Por falar em engajamento, o meu romance Trinta e Nada trata — daquele meu jeito bem displicente —  sobre protestos e como manifestações de heroísmo surgem de onde menos se espera…

Pois bem, voltando à música, o primeiro destaque é para a banda que acompanhou Erasmo no disco, com Os Mutantes Dinho Leme e Liminha, além do monstro Lenny Gordin nas guitarras.

Não por acaso, Carlos, Erasmo que aparece com frequência como o melhor da carreira do Tremendão. Mas devo dizer que o meu favorito é Sonhos e Memórias, que saiu no ano seguinte.

Outra curiosidade: É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo tem nos créditos a autoria de Erasmo Carlos e Roberto Carlos. Contudo, trata-se de uma das poucas composições que, embora assinadas pela dupla, na verdade é de apenas um deles.

No caso, “É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo” é de autoria exclusiva de Roberto, segundo o biógrafo do Rei, Paulo Cesar de Araújo.

O significado de “É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo”

Com o aviso de que uma canção pode ter diferentes interpretações, a letra de “É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo” traz um narrador que volta para o lugar de origem e encontra um cenário desolador.

O retrato é de descaso e de fazer vergonha, entre pessoas acomodadas e aquelas que se foram, levadas pela “mão de gente grande”. No refrão, em meio às guitarras frenéticas, Erasmo entoa o refrão, que surge como um apelo à ação.

Nas mãos de outro artista, a censura talvez percebesse às referências à ditadura em curso. Mas como Roberto e Erasmo não eram artistas “engajados”, a canção saiu sem amarras. E talvez permanecesse esquecida se Walter Salles não aparecesse na trilha de Ainda Estou Aqui.

Vale destacar que a crítica da canção se estende aos que cruzaram os braços diante da situação. Como sabemos, Rubens Paiva pagou o preço porque não ficou calado, “No conforto, acomodado/ Como tantos por aí”…

Fique agora com Erasmo tocando “É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo” ao vivo:

Vinícius Pinheiro

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